Você conhece o ecossistema da região onde mora? Sabe a importância da fauna e da flora do seu bairro? Os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Francisco Barreto, no Laranjal, não conheciam. Um projeto de educação ambiental está sendo desenvolvido no colégio para mudar essa realidade e aproximar a comunidade da natureza.

A localização da escola é privilegiada. Ela fica a três quadras de um banhado onde há uma espécie de peixe endêmica, ou seja, que só existe ali no Pontal da Barra. É o peixe anual, cientificamente denominado Austrolebias nigrofasciatus. A descoberta empolgou os alunos e os engajou em atividades de preservação do ecossistema local.

A ideia de iniciar atividades de educação ambiental partiu da própria escola, a partir de um pedido da Secretaria Municipal de Educação e Desporto (Smed). O projeto Barreto Mais está diretamente ligado às disciplinas de Ciência, História e Português, mas o colégio inteiro acaba se envolvendo. O objetivo é conscientizar as crianças e os adolescentes sobre a importância da natureza e fazer com que este conhecimento circule na comunidade, atingindo também os adultos.

Os professores do colégio ganharam um reforço com a entrada da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Junto a alguns alunos e docentes do curso de Gestão Ambiental, formaram o grupo Construindo um Projeto de Educação Ambiental com a Escola Dom Francisco de Campos Barreto. A parceria rendeu dias de capacitação aos funcionários do educandário, palestras para a comunidade e a atividade mais esperada: saída de campo para coleta da espécie endêmica.

Habituada a cuidar da natureza, a aluna Giovanna Flores, 14, participou do grupo de quase cem pessoas que foram até o banhado em busca do peixe anual. Ela foi responsável por fotografar a espécie no curto período de tempo em que ficou fora d’água. “Eu nunca imaginei que tivesse um animal que só existe aqui”, fala. A novidade foi compartilhada com os familiares e a adolescente pretende continuar se dedicando à preservação do Pontal.

A professora Jesilaine Salton se surpreendeu com a reação dos alunos diante do projeto. “Eles ficaram encantados com a ideia de coletar o peixe e nós ficamos encantadas com eles”, brinca. Ela considera as atividades de extrema importância para que os alunos aprendam sobre educação ambiental.

Difundir o conhecimento científico dentro da comunidade é um dos principais objetivos da iniciativa. “Antes eles viam os ambientalistas como os chatos, como alguém que vinha para tirar eles das residências. Agora percebem a importância ecológica do Pontal”, comenta a professora Andressa Cardoso, que ministra a disciplina de Ciências.

Dentre as atividades feitas para aproximar ainda mais comunidade e natureza, está a adoção de uma praça pela escola. O espaço fica próximo ao colégio e eles já estão confeccionando uma placa para indicar às pessoas que naquele local vive uma espécie endêmica. Depois, o próximo passo será batizar o peixe com um nome popular. Até agora ele só é catalogado com o nome científico. Para isso, as professoras pretendem organizar um concurso cultural envolvendo as turmas.

A Emef Francisco Barreto foi a primeira escola a receber o projeto de educação ambiental da UFPel. Giovane Maurício, professor responsável pela parceria, já projeta ampliar a iniciativa para o Colégio Municipal Pelotense. “Nós realizamos algumas atividades lá e pretendemos voltar”, explica.

Didática
Para auxiliar nas atividades e tornar processo mais lúdico, Giovane organizou um livro-objeto. A ferramenta foi feita com fotos tiradas por ele ou por fotógrafos locais. O Pontal da Barra é a estrela de uma das obras e as margens do canal São Gonçalo protagonizam outra. Cada página revela espécies nativas e a descoberta é feita pelas próprias crianças, que levantam e arrastam as abas dos livros.